Internacional

Especialistas iniciam processo para exumar restos mortais de Neruda

Causa mortis


08/04/2013



{arquivo}Os trabalhos de retirada de terra do túmulo de Pablo Neruda começaram no domingo (7) no Chile a fim de que possam ser exumados nesta segunda-feira (8) os restos mortais do poeta. O objetivo é esclarecer se ele morreu de câncer ou se foi envenenado por agentes da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), informou a agência EFE.

Os preparativos foram iniciados na tarde de domingo na cidade litorânea de Isla Negra, 100 km a oeste de Santiago, onde fica a casa-museu em cujo pátio estão os restos do poeta junto aos de sua terceira esposa, Matilde Urrutia.

A casa-museu fechou suas portas ao público antes do horário habitual, e a polícia bloqueou o acesso à sua rua.
‘Esta diligência é transcendental, é muito importante para estabelecer o objetivo que nós temos’, disse o juiz responsável pelo caso, Mario Carroza, à imprensa.

Os preparativos consistem em retirar toda a terra que cobre o túmulo a fim de descobrir a lápide, sobre a qual foi colocada uma tenda protetora.

A equipe que participará da exumação do corpo é composta por cinco peritos do Serviço Médico Legal, quatro da Universidade do Chile e quatro especialistas internacionais.

Entre eles estão a toxicóloga americana Ruth Winecker e três espanhóis, o também toxicólogo Guillermo Repetto, o cirurgião Aurelio Luna e o médico legista Francisco Etxeberría, que também participou, em 2011, da exumação do presidente chileno Salvador Allende.

A diligência será realizada nesta segunda-feira a partir das 8h locais (mesmo horário em Brasília).
No procedimento estarão presentes três observadores internacionais, além do presidente do Partido Comunista (PC), Guillermo Teillier; o advogado da legenda, Eduardo Contreras; um sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, e o antigo motorista de Neruda, Manuel Araya.

Depois, os restos mortais serão levados a um laboratório de antropologia do SML em Santiago, que contará com vigilância permanente e medidas de segurança especiais, para serem submetidos a diversas análises.
Câncer ou envenenamento?

Os exames visam determinar a veracidade da versão oficial da morte de Neruda, segundo a qual o autor morreu em um hospital particular de Santiago em 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias depois do golpe de Estado de Pinochet. A causa oficial da morte foi câncer de próstata.

As dúvidas surgiram em 2011, quando seu antigo motorista, Manuel Araya, defendeu em entrevista a uma revista mexicana que Neruda tinha morrido por uma injeção que recebeu naquele mesmo dia.

Todas as testemunhas da época concordam que ele recebeu essa injeção, mas o fator chave está em saber se era um calmante, como se disse então, ou se continha outro tipo de substância.

"Existem muitas contradições no processo, principalmente sobre o que aconteceu na clínica em que Neruda recebeu atendimento", disse o advogado que fez o pedido de exumação, Eduardo Contreras, à agência Efe.
"Para citar um exemplo, há dúvidas a respeito da real identidade do médico que teria injetado um medicamento (dipirona) no poeta, supostamente para lhe aliviar a dor", completou Contreras, que ressaltou que Neruda "deveria ser atendido por um médico chamado Sergio Draper".

"É estranho o fato de que Draper fosse trabalhar na clínica apenas três dias antes da morte de Neruda, ainda mais por ser um médico ligado ao Hospital Militar e, inclusive, mencionado na morte (em 1982) do ex-presidente Eduardo Frei Montalva nessa mesma clínica por envenenamento, como está credenciado na Justiça", precisou.

"É preciso citar que a ficha médica de Neruda também desapareceu e que a Clínica Santa Maria não entregou a lista com todos os seus funcionários em 1973", afirmou o advogado, que lembrou que, no dia 24 de setembro de 1973, o jornal ‘El Mercurio’ publicou que Neruda morreu de infarto após ter recebido uma injeção".


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