Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Opinião

Opinião Formada


01/09/2024

(Foto: Reprodução/Internet)

Fiquei sabendo essa semana, que nos anos 60 e 70 em algumas cidades do sertão da Paraíba, existiam clubes socais para brancos e para negros.

Mais que isso. Nas suas igrejas, o sacerdote rezava a missa em duas sessões, se é que podemos chamar assim. A primeira para os brancos num lado da capela, e a segunda para os negros, no outro lado.

Parece incrível, mas lembro bem que o namoro entre brancos e negros não era visto com bons olhos pela grande maioria da sociedade da época do litoral ao sertão.

A grande questão é saber se mudamos, de lá para cá, ou se o vírus da diferença e da discórdia, sofreu uma mutação e incorporou à sua maldade novos elementos como a ideologia de classe, de gênero e politica.

Tudo isso me veio à mente no momento em que se comemora a independência do país, conquistada no grito sem se derramar uma única gota de sangue.

Uma festa que costumava levar milhares de pessoas para assistir a um desfile cívico e militar, num tempo sem muitas opções de lazer e sem maiores questionamentos das pessoas.

Hoje, a data só não passa em branco porque é um feriado nacional, e também porque serve de pretexto para saudosistas de tempos sombrios levantarem a bandeira da ignorância e da incoerência.

Nesse contexto, a independência que importa não é a dos extremos, e sim a do todo, que tem a ver com a inclusão generalizada que pode levar à liberdade dos indivíduos, brancos e negros.

O livre pensar, que tem muito a ensinar, e o livre arbítrio.

Não se trata, portanto, apenas de bradar às margens do rio, mas também de se banhar nas suas águas e se purificar com elas.

Não apenas de ouvir, mas também de se expressar, ter voz e opinião formada.

O rio, por sua vez, é o mesmo que passou em nossa vida e que nosso coração se deixou levar.

Até mesmo porque ele deságua no mar que pode ser o de oportunidades iguais para todos.

Para tanto, temos de aprender com o passado de escravidão, e nos livrarmos de todas as amarras que impediram durante muitos anos, gente da cor escura de assistir a missa diante do altar.

É esse tipo de liberdade que se espera de um

conceito de nação livre e justa. Onde todos possam ser iguais perante a lei. Sem assédio e sem violência, tão somente vendo a banda passar.

Não apenas tocando hinos e dobrados, mas também coisas de amor.

Mas, apesar de tudo isso, acho muito importante que tenhamos uma independência para comemorar, mesmo com o feriado caindo esse ano num sábado, que a gente reza que seja de muito sol e calor.

E independente de tudo que conquistamos com o brado retumbante do imperador, é inquestionável o seu papel na história, como um passo importante na caminhada em busca do tempo perdido.

Do que ficou para trás.

Porque, no final de tudo, temos mais é que seguir em frente.


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