Paraíba
O retrato na parede
25/03/2023

São muitos retratos em cores e em branco e preto. Também com muitos sonetos, contos, ensaios e romances, muitos deles divinamente inspirados como a canção de Chico Buarque, que vai além de uma simples história de amor.
Fazendo jus ao nome, a Academia Paraibana de Letras, é um espaço acadêmico que respira arte e cultura, e cumpre a contento o seu objetivo de promover o intercâmbio literário entre seus pares.
Que são eleitos por mérito, pelo conjunto da obra como se diz popularmente.
É também um lugar de luminares. Não apenas escritores, mas de uma maneira geral pessoas envolvidas e bem resolvidas com um talento que flerta com o universo da poesia , e que dá vida e voz a sua arte.
Por isso, nos corredores da casa de Machado de Assis, no Rio de Janeiro, é comum se cruzar com Fernanda Montenegro e Gilberto Gil. E ainda torcer para que a próxima vaga venha a ser ocupada por Maurício de Sousa, o pai da Mônica, Cebolinha e de toda a turma.
Por aqui, temos Flávio Tavares e um Pedro Américo. Temos também um Sérgio de Castro Pinto e um Augusto dos Anjos, que é patrono da Instituição.
Infelizmente, não temos e nem tivemos tantas mulheres. Não mais que cinco em toda a existência da casa.
De uma delas, lembro bem. Mariana Soares o seu nome. Era poetisa e sua foto está na parede. Outras são Elizabeth Marinheiro e Ângela Bezerra de Castro.
É possível se ver ainda muitos ex-governadores. Não sei se publicavam livros, pintavam ou faziam canções, com exceção de Ernani Sátiro e Ronaldo Cunha Lima, um romancista e o outro poeta.
O velho Rocha Barreto, meu avô materno, também está lá. Ativista e inquieto, ajudou a fundar a APL e também a API. Curiosamente, a foto não estava correspondendo à legenda quando estive lá , mas logo ela voltou ao seu lugar.
Sobre a sua obra, onde conta a história dos Correios na Paraíba , o cronista maior Gonzaga Rodrigues lembra da história de um carteiro que, ao transportar num burro a mala de correspondência até Campina Grande, é acometido de um mal que lhe deixa com muita febre e tremores. E só mesmo com muita dificuldade consegue chegar ao destino, que lhe reserva um final trágico.
Impedido, por causa da doença, de se hospedar em todos os hotéis da cidade, não encontra outra alternativa que não seja deitar à sombra de uma árvore e morrer.
Assim era meu avô e assim era a vida. Lembro que ele fumava cachimbo, como o personagem de Conan Doyle, e que também tinha uma bengala.
E que também foi minha referência e inspiração.
Que Deus o tenha.
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